Yuan vs. Dólar: A Estratégia Calculada da China para Redesenhar o Comércio Mundial
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Yuan vs. Dólar: A Estratégia Calculada da China para Redesenhar o Comércio Mundial

Por Redação
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Em um movimento silencioso, porém estratégico, a China vem consolidando o yuan como uma força crescente no cenário financeiro global. Embora a supremacia do dólar americano permaneça inabalada, a moeda chinesa já é utilizada em mais da metade de todas as transações internacionais do país e alcançou marcos significativos, sinalizando uma mudança gradual na arquitetura econômica mundial. A ofensiva chinesa para internacionalizar sua moeda, o renminbi (ou yuan), ganhou força após a crise financeira de 2008. Alarmado com a massiva impressão de dólares pelo Federal Reserve, o banco central americano, que ameaçava o valor de suas vastas reservas estrangeiras, Pequim iniciou em 2009 um projeto para liquidar seu comércio exterior em sua própria moeda. Hoje, quase um terço dos US$ 6,2 trilhões em comércio de bens da China é faturado em yuan. Se incluirmos investimentos e títulos, o yuan superou o dólar pela primeira vez em 2023, respondendo por 53% das transações do país. A estratégia de Pequim, no entanto, não é uma tentativa de desbancar o dólar da noite para o dia, mas sim uma abordagem pragmática focada em três pilares principais. O primeiro é o comércio. A China está usando seu poderio econômico, especialmente nas relações com o Sul Global e em acordos de commodities com parceiros como a Rússia, para exigir que uma parcela crescente das transações seja feita em yuan. O segundo pilar é o crédito externo. Por meio de iniciativas como a Nova Rota da Seda, os bancos chineses quadruplicaram seus empréstimos em yuan para outros países nos últimos cinco anos, atingindo US$ 480 bilhões. Com taxas de juros mais baixas que as do dólar, nações como Quênia e Angola estão convertendo suas dívidas para a moeda chinesa, o que a integra profundamente nas estruturas financeiras de economias em desenvolvimento. O terceiro e talvez mais ambicioso pilar é a construção de uma arquitetura financeira paralela. A China desenvolveu o CIPS (Sistema de Pagamentos Interbancários Transfronteiriços) como uma alternativa ao sistema SWIFT, dominado pelo Ocidente. Além disso, o país é pioneiro no desenvolvimento de uma moeda digital soberana, o yuan digital, que promete agilizar pagamentos internacionais e reduzir ainda mais a dependência de bancos ocidentais. Acordos de swap cambial com mais de 50 países também permitem que parceiros como Rússia e Argentina acessem o yuan para contornar sanções ou instabilidades. Apesar dos avanços notáveis, o caminho para o yuan se tornar uma moeda de reserva global como o dólar é longo e cheio de obstáculos autoimpostos. A principal barreira é o rígido controle de capital exercido por Pequim. O yuan não é livremente conversível, pois o Partido Comunista Chinês prioriza a estabilidade e o controle sobre seu sistema de crédito doméstico. "Pequim acredita que as finanças devem ser escravas da economia real, e não senhoras", explica Miguel Otero-Iglesias, pesquisador do Instituto Real Elcano. Sem a livre convertibilidade, é improvável que investidores internacionais e bancos centrais adotem o yuan em larga escala para suas reservas, que hoje são majoritariamente em dólar (58% do total, contra 2,4% do yuan). Além disso, a própria economia chinesa enfrenta desafios, como o consumo interno enfraquecido e a dependência das exportações, o que pode limitar o alcance da expansão do yuan. O que se desenha não é uma substituição, mas uma regionalização da influência do yuan, criando uma esfera econômica onde a moeda chinesa é a referência. A ascensão do yuan é menos sobre destronar o dólar e mais sobre construir um sistema financeiro multipolar, no qual a China detém maior autonomia e poder para moldar as regras do jogo em seu favor.
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