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Aos 37 anos, Chen Zhi projetava a imagem de um empresário visionário e filantropo renomado no Camboja. No entanto, uma investigação internacional desvendou uma faceta sombria, acusando-o de ser o cérebro de um império de ciberfraudes que movimentou bilhões de dólares e foi construído sobre a exploração humana.
Em uma operação sem precedentes, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusou formalmente Chen Zhi de orquestrar um esquema criminoso que roubou bilhões em criptomoedas de vítimas ao redor do mundo. Na esteira da acusação, o Departamento do Tesouro americano anunciou o confisco de aproximadamente US$ 14 bilhões (cerca de R$ 75,5 bilhões) em bitcoins ligados ao empresário, marcando a maior apreensão de criptoativos da história.
Enquanto seu conglomerado, o Cambodian Prince Group, o descreve em seu site como um "empresário respeitado" cuja "liderança transformou o Grupo Prince em um líder empresarial", as autoridades americanas e britânicas pintam um quadro drasticamente diferente. O grupo é classificado como uma "Organização Criminosa Transnacional" que lucra com uma vasta gama de delitos, incluindo sextorsão, lavagem de dinheiro, corrupção e, mais chocante, o tráfico, tortura e extorsão de trabalhadores mantidos em regime de escravidão para operar os golpes.
A ascensão de Chen Zhi foi tão rápida quanto misteriosa. Originário da província de Fujian, na China, ele se mudou para o Camboja por volta de 2011, em meio a um boom imobiliário impulsionado pelo capital chinês. Em 2015, com apenas 27 anos, fundou o Prince Group. Sua influência cresceu exponencialmente: naturalizou-se cambojano, obteve cidadania cipriota e de Vanuatu, fundou um banco, companhias aéreas e desenvolveu projetos imobiliários de luxo, como a "ecocidade" de US$ 16 bilhões em Sihanoukville.
Sua fortuna e poder garantiram-lhe conexões no mais alto escalão do governo cambojano, tornando-se assessor de ministros e do próprio primeiro-ministro. Em 2020, recebeu do rei o prestigioso título de "Neak Oknha", uma honraria que exige doações significativas ao Estado.
Contudo, segundo as investigações, a fonte de sua riqueza era ilícita. O império de Chen Zhi operava a partir de complexos de fraudes, como o Parque Científico e Tecnológico Golden Fortune, onde trabalhadores, muitos deles traficados da China, Vietnã e Malásia, eram forçados a aplicar golpes online sob ameaça de violência brutal.
A derrocada começou quando os EUA e o Reino Unido impuseram sanções a 128 empresas e 17 indivíduos ligados a Chen Zhi e ao Prince Group, congelando seus ativos em ambos os países. A onda de choque se espalhou globalmente: a Coreia do Sul congelou US$ 64 milhões em depósitos, enquanto Singapura e Tailândia iniciaram suas próprias investigações.
No Camboja, a elite política, que por anos manteve laços estreitos com o magnata, agora enfrenta uma pressão crescente para se distanciar. A economia do país, que segundo estimativas pode ter até metade de sua atividade ligada a empresas de fraude, está sob escrutínio.
Desde que as sanções foram anunciadas em meados de outubro, o paradeiro de Chen Zhi é desconhecido. O enigmático bilionário, antes uma das figuras mais poderosas do Sudeste Asiático, aparentemente desapareceu, deixando para trás um rastro de ruína financeira e um legado de sofrimento humano.
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