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Em Pacaraima, cidade que serve de porta de entrada para o Brasil no norte de Roraima, a crise humanitária venezuelana se materializa em acampamentos improvisados às margens da rodovia BR-174. Sem recursos para seguir viagem ou encontrar moradia, dezenas de famílias sobrevivem em barracas de lona e papelão, enfrentando o frio e a incerteza, mas agarrando-se a uma esperança: a de ter o que comer.
A prefeitura local estima que cerca de 1,5 mil imigrantes estejam em situação de rua, um número que representa 22% da população da cidade. Um dos acampamentos, localizado na principal via de ligação com a Venezuela, abriga pelo menos 30 famílias em condições precárias. Estruturas de madeira e plástico protegem da chuva, mas pouco amenizam o frio da madrugada, que pode chegar a 16º C.
Angélia Aguilera, de 18 anos, vive há um mês em uma dessas barracas com o marido e o filho de um ano. A família deixou para trás a cidade de Maturin, na Venezuela, fugindo do colapso econômico. "Vim porque na Venezuela não tem trabalho, comida e remédio. Não tem nada", desabafa. O salário do esposo, corroído pela inflação, já não comprava o básico. No Brasil, a dificuldade continua, mas com uma diferença crucial. "A vida aqui está um pouco difícil porque não conseguimos dinheiro. (...) Mas dá para comer, sobreviver. Pelo menos temos comida", afirma Angélia, cujo objetivo é chegar a Manaus.
O sentimento de gratidão em meio às adversidades é compartilhado por Luiz Sereño, de 20 anos. Em sua barraca improvisada, ele hasteou duas bandeiras do Brasil como homenagem ao país que o acolheu. Trabalhando como lavador de carros, ele envia o pouco que ganha para a filha de três anos que permaneceu na Venezuela. "A Venezuela tem muitos recursos naturais, mas já estamos cansados de passar fome. Tenho uma filha e chorava quando via ela comendo só manga", relata.
A rotina no acampamento é de improviso. A comida, muitas vezes fruto de doações, é preparada em fogareiros feitos com latas de tinta. Sem acesso a saneamento básico, a higiene pessoal depende de pagar para usar banheiros de comércios locais ou recorrer a uma área de mata próxima.
Os números oficiais revelam a dimensão do êxodo. A Polícia Federal registrou mais de 16 mil pedidos de refúgio em Roraima apenas no primeiro semestre deste ano, superando o total de todo o ano de 2017. O Exército calcula uma média de 416 entradas diárias de venezuelanos no estado.
Em resposta, a Força Tarefa Logística Humanitária, coordenada pelo Governo Federal, informou que está implantando um novo abrigo para 500 pessoas não-indígenas em Pacaraima, já que o único abrigo público da cidade é exclusivo para indígenas. Em todo o estado, dez abrigos acolhem cerca de 4,6 mil pessoas, um número insuficiente para a demanda. Além disso, um programa de interiorização já transferiu 820 imigrantes para outros estados brasileiros, em uma tentativa de aliviar a pressão sobre Roraima.
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